Perturbações do Comportamento Alimentar
As Perturbações do Comportamento Alimentar (PCA) estão entre as doenças psiquiátricas mais comuns entre as mulheres jovens, afetando mais de 4% das adolescentes e jovens adultas. No entanto, ocorrem também noutras faixas etárias e cerca de 10% dos casos são indivíduos do sexo masculino.
As PCA são mais prevalentes nas sociedades industrializadas e ocorrem em todas as classes socioeconómicas. Estas doenças são causadas por uma combinação de fatores genéticos, neuroquímicos, psico-ambientais e socioculturais. Sendo doenças multifatoriais, exigem uma abordagem compreensiva, que deverá integrar preocupações a nível físico, psicossocial, familiar e educacional.
Doenças
Caracterizadas por graves perturbações a nível do padrão alimentar, estas doenças incluem a Anorexia Nervosa, a Bulimia Nervosa, a Perturbação de Ingestão Alimentar Compulsiva e outras Perturbações do Comportamento Alimentar.
A Anorexia Nervosa caracteriza-se por uma restrição alimentar exagerada, com recusa em manter um peso mínimo normal para a idade e altura. Muitas vezes a doença inicia-se com uma dieta inocente, mas a partir de determinada altura existe uma perda de controlo, atingindo-se um estado de magreza excessiva. Nem sempre existe uma distorção da imagem corporal, ou seja, muitas vezes a pessoa tem a noção de que tem um baixo peso, mas tem a ideia persistente de ter de continuar a restringir o que come para não engordar. A amenorreia (falta de menstruação) é uma consequência dessa magreza, levando muitas vezes à procura de outras doenças físicas que a possam justificar. Uma das complicações médicas mais frequentes nos doentes que sofrem desta patologia é a osteopénia ou mesmo a osteoporose (perda grave da densidade mineral óssea), com aumento associado do risco de fraturas. Todas estas alterações são reversíveis com o tratamento.
A Bulimia Nervosa é caracterizada por episódios de ingestão alimentar compulsiva, seguidos de manobras compensatórias, nomeadamente autoindução do vómito, abuso de laxantes ou diuréticos, períodos de jejum ou prática excessiva de exercício físico. O peso mantém-se normal para a idade ou altura, sofrendo geralmente algumas oscilações, o que muitas vezes leva ao adiar da procura de ajuda e do diagnóstico. As principais consequências nefastas desta doença são as alterações hidroeletrolíticas, ou seja, a quebra do equilíbrio essencial para o bom funcionamento do organismo (entre a água e outros constituintes, como o sódio, o potássio ou o magnésio). Essas alterações são causadas pelo vómito e pela toma de laxantes e diuréticos, com complicações cardiovasculares associadas. As cáries dentárias são muito frequentes. Em casos mais raros, pode ocorrer hemorragia digestiva.
A Perturbação de Ingestão Alimentar Compulsiva consiste em episódios de voracidade alimentar, com ingestão compulsiva de alimentos, associada a um intenso mal-estar. Neste caso não existem manobras compensatórias, levando a excesso de peso ou mesmo a obesidade. Assim, sendo esta uma possível causa de obesidade, o seu diagnóstico é fundamental. O mesmo irá obrigar a uma abordagem específica e diferente das outras situações de obesidade, ou seja, direcionada para o distúrbio alimentar. Esta doença poderá ter também como consequência hipertensão arterial, diabetes e hipercolesterolémia, entre outras.
Destaca-se ainda outra patologia cada mais frequente: a Ortorexia Nervosa que é caracterizada por uma fixação em alimentação saudável, ou seja, existe um comportamento obsessivo patológico caracterizado pela fixação por saúde alimentar. As pessoas com este quadro apresentam uma preocupação excessiva com a qualidade da alimentação. Não tem a ver com medo de engordar, mas sim com comer de forma “limpa”, somente “alimentos puros”. Com o tempo, o que comer e o quanto comer passa a dominar a vida da pessoa. O quotidiano fica limitado, pois a alimentação fora de casa é algo praticamente inviável por conta das restrições. O prazer em comer é desconsiderado e praticamente inexistente e o indivíduo perde o seu bem-estar social e mental, tornando-se refém da sua própria alimentação.
As PCA frequentemente coexistem com outras patologias psiquiátricas, nomeadamente Perturbações do Humor, da Ansiedade ou de Abuso de Substâncias. No entanto, apesar de serem doenças psiquiátricas, abrangem também um grande intervalo de comorbilidades médicas, podendo atingir todos os órgãos e sistemas. São doenças graves, associadas a uma elevada taxa de mortalidade e a elevados custos psico-sociais.
O diagnóstico precoce da doença influencia o seu prognóstico. Assim, quanto mais atempadamente for iniciado um tratamento específico melhor será o prognóstico da doença. Cerca de metade dos casos de Anorexia Nervosa ou Bulimia Nervosa têm uma recuperação total, 30% têm uma recuperação parcial e 20% dos casos não apresentam uma melhoria significativa dos sintomas, tornando-se numa doença crónica.
Tratamento
O tratamento do distúrbio alimentar é muito complexo, moroso, com uma grande especificidade e reconhecidamente difícil. Sendo estas doenças definidas por uma psicopatologia que condiciona um comportamento alimentar que, por sua vez, provoca alterações somáticas, a sua avaliação inicial e o plano terapêutico devem ser globais, compreendendo: avaliação do estado mental, avaliação médica geral, elaboração de um plano alimentar, estabelecimento de um objetivo ponderal e instituição de terapêutica farmacológica (quando indicado). A psicoterapia constitui uma abordagem terapêutica essencial nestas patologias, uma vez que traduzem um enorme sofrimento psíquico. O envolvimento das famílias é fundamental, estando indicada a realização de reuniões familiares ou de terapia familiar. Nestas doenças o tratamento é maioritariamente em ambulatório, estando o internamento indicado apenas em situações mais graves, nomeadamente em casos de desnutrição grave, surgimento de complicações médicas que o exijam ou presença de ideação suicida estruturada.
Assim, constituindo um grupo de patologias altamente complexas, as PCA devem obrigatoriamente ser tratadas por uma Equipa Multidisciplinar com experiência no tratamento destas perturbações. A eficácia do protocolo terapêutico assenta na existência de condições adequadas e de uma equipa articulada de técnicos com formação base distinta, de forma a lidar de forma consistente com os aspetos psicológicos, psiquiátricos, médicos e sociais destes distúrbios.
Equipa
A equipa é constituída por:
Coordenadora do Programa: Dra. Sónia Oliveira (Psiquiatra)
Dra. Zulmira Jorge (Endocrinologista)
Dra. Filipa Cardoso de Menezes (Psicóloga Clínica)
Dra. Patrícia Almeida Nunes (Nutricionista)